PSICOTERAPIA INFANTIL


A psicologia enquanto ciência voltada para a saúde mental do indivíduo tem como algum dos preceitos contemplar este em sua totalidade, procurar preservar sua integridade, além de prestar um auxilio que respeite o sujeito sem qualquer preconceito, que acabe comprometendo e prejudicando-o no decorrer do trabalho. Contudo tais conceitos são entendidos, pela maioria dos adultos já formados, mas como fica esse entendimento e realização para uma criança e adolescente?
Esse artigo propõe-se a trazer informações pela área, mesmo sendo apresentado de forma sucinta, sobre como interagir e trabalhar com a vertente da Psicoterapia Infantil.
A Psicoterapia Infantil, não foi uma área explorada de imediato pela psicologia. A ciência que se deu início com Wilhelm Wundt(1832-1920), estava focada em uma ciência empírica e como objeto a experiência imediata do sujeito. Só se teve estudos envolvendo a fase infantil do sujeito com a chegada do pai da psicanálise Sigmund Freud.
Freud teve como seu primeiro estudo publicado sobre o assunto o ‘O Esclarecimento Sexual das Crianças’ em 1907, no qual trazia o caso clinico de fobia do “pequeno Hans”. Esse caso clinico viria a trazer grandes contribuições para o desenvolvimento de conceitos que fundamentariam essas novas vertentes da psicologia. Apesar de se tratar de um paciente, que não se enquadrava muito aos padrões de pacientes que Freud se habituara a atender ( levando em conta que muito de seus estudos se deram com as “histéricas”), manteve um caráter profissional e metodológico como de qualquer outro paciente , assim como traz Freud (1996): “No dia seguinte, eu o fiz comprometer-se a submeter-se à única e exclusiva condição do tratamento, ou seja, dizer tudo que lhe viesse à cabeça, ainda que lhe fosse desagradável ou que lhe parecesse sem importância, irrelevante ou sem sentido. Então lhe dei permissão para iniciar suas comunicações com qualquer assunto que o contentasse, e assim ele começou.” Com o transcorrer dos anos novas abordagens vieram a se constituir, trazendo novas maneiras de ver o homem e contemplá-lo, assim como novas formas de visualizar a infância e como este se constitui, por exemplo o behaviorismo trazendo conceitos como de “reforço e punição” para explicar como se mantém ou se exclui determinado comportamento do sujeito ( isso se refletindo em especial em maneiras de como se educar uma criança), a histórico-cultural e o materialismo histórico-dialético, contemplando todo um aparato cultural no qual este indivíduo está inserido ( a existência do sujeito se dá em um dado período da história numa determinada cultura existente).
A Psicoterapia Infantil passou por diversas reformulações no decorrer de mais de um século desde de a primeira publicação, que trazia algum espectro do que seria essa nova área de atuação da psicologia. Foi com o passar dos anos que se desenvolveram novos métodos de se realizar esta pratica, assim como ideias que implicavam na proteção e integridade do indivíduo, como, por exemplo, o Código de Ética do Psicólogo.

TÉCNICAS, MÉTODOS ENTRE OUTROS

Realizar uma Psicoterapia Infantil pode acarretar algumas dificuldades, por não se tratar de um indivíduo adulto com uma consciência já formada, e sim de um indivíduo que ainda está se formando socialmente, biologicamente e psicologicamente.
A maneira como se dará a psicoterapia, apesar de se tratar de uma situação mais especifica (criança e adolescente), ainda mantém aspectos como se fosse como um adulto. A formação de um vínculo de confiança recíproco com seu paciente, conhecido como rapport, além da maneira como o psicólogo realiza o acolhimento que é a “técnica de conversa, diálogo orientado pela busca de uma maior ciência das necessidades de que o usuário se faz portador e das possibilidades e dos modos de satisfazê-las” .(TEIXEIRA, 2003)
A principal diferença entre a terapia de adulto e a infantil talvez esteja na busca constante do terapeuta infantil por procedimentos alternativos ao relato verbal, para obter informações importantes sobre a criança.
O feito da escuta clinica com crianças e adolescentes, entretanto, não é uma tarefa fácil de ser executada, pois se trata de uma interpretação mais rica e complexa, considerando todo um contexto cultural, social, o contexto no qual este está inserido e interage no mesmo, o que pode trazer dificuldades na execução do tratamento do profissional de saúde mental. Tamanho fato acaba por exigir do profissional criatividade e flexibilidade em momentos imprevistos que aconteçam no decorrer das seções. (BURGE, SCANDAR, MUNISH, CARREA,2015)
Ter noção de saber escutar criança todas as suas queixas e conseguir refletir todo um contexto em que ela está inserida, trazendo a família para auxiliar nesta reflexão são artifícios valiosos para a evolução do tratamento, isso sempre junto de uma ética, além da confiança estabelecida permeada pelo diálogo, que busque a melhora da criança como é o caso de queixa de ansiedade trazida pela criança.(ASSIS,XIMENES,AVANCI,PESCE,2007)
Conseguir chegar até a criança pode não ser uma tarefa fácil quando vemos que esta se encontra numa fase especifica de sua vida e com peculiaridades. Dentre elas a forma como ela se expressa e o que desperta seu interesse, como por exemplo, brincadeiras e jogos. As crianças frequentemente precisam de outras formas para expressar seus sentimentos que não a verbal, para obter os ganhos que essa expressão significa para o desenvolvimento da terapia.
Essas outras formas de expressão incluem desenhar ou contar histórias, fantasiar, imaginar e interpretar situações, usar bonecos e jogos, pinturas, colagens, argila, massa plástica de modelagem, música, entre outros instrumentos que caracterizam uma situação natural para a criança e um ambiente livre de censura para a exposição de seus sentimentos.
Tendo isso em mente uma forma de se praticar a psicoterapia, é através do artifício do lúdico, no caso a ludoterapia como descreve Feijoo (1997): “Ludoterapia significa a aplicação de procedimentos de psicoterapia através da ação do brincar, mais especificamente, é o processo psicoterapêutico, que lançando mão do brinquedo, vai, através, da brincadeira constituir-se na estratégia utilizada pelo psicoterapeuta, a fim de que se possa rumar no sentido da autenticidade, aspecto este que fundamenta a essência da psicoterapia de base fenomenológico-existencial.”
A ludoterapia não é um método que vá contra aos princípios de psicoterapia convencionais pelo psicólogo, mas sim forma alternativa de conseguir formular uma estratégia de intervenção e conseguir interagir de maneira mais dinâmica com o sujeito.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA

ASSIS, S. et al.Ansiedade em crianças: um olhar sobre transtornos de ansiedade e violências na infância. Rio de Janeiro: FIOCRUZ/ENSP/CLAVES/CNPq, 2007.

BURGE, E. et al.Sessões de Psicoterapia com Crianças e Adolescentes: erros e acertos. Novo Hamburgo: Sinopsys, 2015.

Myriam Moreira Protasio, Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo, Maria Bernadete Medeiros Fernandes Lessa, Claudia Guimarães.LUDOTERAPIA: Aspectos teórico-práticos na Ludo terapia Técnicas da Gestalt Terapia aplicadas à Ludo terapia Técnicas do Psicodrama aplicadas à Ludo terapia na abordagem Fenomenológico Existencial Um estudo de caso: do psicodiagnóstico à psicoterapia infantil. FENÔMENO PSI IFEN, Rio de Janeiro, Nº 0,junho/1997

Mauricio Xavier e Júlia Gouveia jun 2017- Publicado em 17 maio 2014, Revista Veja São Paulo, Revista Psicologias do Brasil: Disponível em: https://www.psicologiasdobrasil.com.br/numero-de-criancas-atendidas-em-consultorios-depsicologia-dobra/ : Acessado em 13/08/2018

Sinais de que a criança deve fazer terapia Na sala de aula do 4º e do 5º ano do ensino fundamental, a professora pergunta: "Quem faz terapia?". Metade dos alunos, por volta dos 10 anos, levanta a mão. Saulo de Freitas Araujo. Uma visão panorâmica da psicologia científica de Wilhelm Wundt. Scientiæ Zudia, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 209-20, 2009

SIGMUND, Freud. Duas histórias clínicas (O “Pequeno Hans” e o “Homem dos ratos”). Rio de Janeiro: Imago, 1996

Yvanna Aires Gadelha e Izane Nogueira de Menezes.:.Estratégias lúdicas na relação terapêutica com crianças na terapia comportamental. Univ. Ci. Saúde, Brasília, v. 2, n. 1, p. 1-151, jan./jun.2004,PDF: Disponível em https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/cienciasaude/article/view/523: Acessado em: 13/08/2018

Autores são acadêmicos da 3ª Serie do Curso de Psicologia da UNIPAR-Cascavel/PR
Matheus Diovane
Matheus Benetti
Mateus Pantolfi Tostes
Rodrigo Felipe Martins Claro

Artigo de responsabilidade dos autores.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FRAGMENTADO - UMA ANÁLISE PSICOLÓGICA

RESENHA CRÍTICA SOBRE O FILME “QUE HORAS ELA VOLTA” NUMA PERSPECTIVA DA ANÁLISE INTERSECCIONAL E OS SEUS DIFERENTES MARCADORES SOCIAIS QUE CONSTITUEM A PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE.

O Quarto de Jack - Análise na perspectiva da teoria Histórico-Cultural