A MULHER E A SEXUALIDADE


A sexualidade da mulher ao longo do desenvolvimento da humanidade já passou por muitas fases, de acordo com Foucault (1999), a sexualidade feminina já passou da exaltação e liberação, à repressão em diferentes momentos históricos, na maioria das vezes influenciada fortemente por eventos socioeconômicos, étnicos e religiosos. Foi a partir do século XVIII com a industrialização e a entrada da mulher no mercado de trabalho, que a necessidade de se abordar o tema foi crescendo devido ao aumento da taxa de natalidade e de mortalidade infantil. Diante dessas problemáticas, precisou-se falar sobre fecundidade entre outros assuntos relacionados ao tão temido assunto: o sexo! Ou seja, aquilo que ninguém queria, e não podia falar, tornou-se o centro de discussões políticas e religiosas com o objetivo de regular a economia da época. A partir daí, políticos e religiosos passaram a sobrecarregar de regras e recomendações as relações sexuais dos casais, desta forma, foi-se inserindo na vivência das pessoas, os conceitos de repressão sexual que causaram tantos estragos, principalmente à sexualidade da mulher até os dias atuais. Somente no século XIX com Sigmund Freud, que escandalizou a sociedade da época, abordando aspectos da sexualidade sobre vários pontos como, a sexualidade infantil, as perversões, a homossexualidade e outras situações relacionadas ao sexo e suas disfunções, que o tema passou a ser maiormente discutido.
Neste cenário de repressão da sexualidade, a mulher assumiu papel de submissa ao homem, passando séculos sendo dominadas pelo universo masculino, sendo educadas para serem filhas e mães, não se permitindo experimentar o que é “ser mulher” (GOZZO et al, 2000).
Mas, a partir da década de 1950 com o movimento feminista, com o advento da pílula anticoncepcional e do divórcio, a vida das mulheres foi mudando de figura. Segundo Arán (2003), a questão da separação entre sexualidade e reprodução, graças à pílula anticoncepcional, libertou a mulher da função da maternidade imposta ao seu corpo. Assim, além de poder ser livre para escolher se ter ou não filhos, elas também passaram a poder programar suas vidas quanto ao trabalho e a maternidade de forma mais satisfatória.
Todas essas mudanças globais ocorridas nos últimos anos propiciaram à mulher ocupar espaços diferentes do espaço doméstico e com base em seu empoderamento conquistado, ela passa a se nos impor mais diferentes espaços, inclusive no sexual, conquistando espaço para suas preferências e vontades que antes não poderiam ser nem sequer mencionados no privado e muito menos em público. Assim, a mulher moderna pode definir o sexo em sua identidade como algo prazeroso, podendo acessar informações, ver e trocar imagens de sexo e até mesmo experimentar novas práticas sexuais pelo mundo virtual, sem serem vigiadas ou punidas (VIEIRA, 2005).
Desta forma, a relação de dependência que unia sexualidade e casamento, atualmente está diferente, ou seja, a prática sexual que antes era um dos atributos do sujeito casado, nos dias de hoje tornou-se uma experiência interpessoal que independe da existência de qualquer união (BOZON, 2003).
Esse breve histórico do desenvolvimento da sexualidade feminina busca além de informar, provocar uma reflexão para muitas mulheres que ainda se reprimem sexualmente, pois, o sexo, ainda hoje é tratado por muitas famílias, culturas e religiões como sujo e pecaminoso, para que elas entendam esta forma de entendimento insere a mulher em um lugar de submissão nas relações afetivas além de lhe impor, pensar em sexo como obrigação.

REFERÊNCIAS:
ARÁN, Márcia. Os destinos da diferença sexual na cultura contemporânea. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ref/v11n2/19129.pdf - Acesso em : 11/05/2018.
BOZON, Michel. Sexualidade e conjugalidade. A redefinição das relações de gênero na França contemporânea. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/cpa/n20/n20a05.pdf - Acesso em: 15/05/2018.
FOUCAUT, Michel. História da Sexualidade I: A Vontade de Saber. 13ª Edição. Edições Graal. Rio de Janeiro, 1999.
GOZZO, T.O.; FUSTINONI, S.M.; BARBIERI, M.; ROEHR, W.M.; FREITAS, I.A. Sexualidade feminina: compreendendo seu significado. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 3, p. 84-90, julho 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v8n3/12403 - Acesso em: 29/04/2018.
VIEIRA, Kay Francis Leal et al. Representação Social das Relações Sexuais: um Estudo Transgeracional entre Mulheres. 2016. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932016000200329&lng=en&nrm=iso – Acesso em: 11/05/2018.

Participação do Especial Mês da Mulher. Acesse o vídeo a baixo:


Autora: Sirlene Pereira Ferreira 
Psicóloga Especialista em Sexualidade CRP: 08/15529
Parceira do Instituto Ampliar. O artigo é de responsabilidade da autora.

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